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CAPITALISMO E O FIM DA DEMOCRACIA LIBERAL

Autor: João Lopes, estudante de Mestrado em Sociologia.


Artigo de opinião escrito no âmbito do tema do mês de dezembro: "Crescimento do Populismo e de partido de extrema-direita".



A versão liberal da democracia sustém-se em pelo menos três idealismos irreais: (1) que é possível assegurar direitos através de documentos oficiais que os consagrem; (2) que a democracia se pode basear em votos e representantes; (3) que a liberdade é real mesmo sendo abstrata (ou seja, que alguém é livre mesmo não tendo os meios para consumar essa liberdade). Este raciocínio não só falha sistematicamente, como muitas vezes é deliberadamente usado para manipular os mais incautos.

E porque falha este raciocínio? Uma das razões é seguramente a incompatibilidade entre democracia e capitalismo. Certamente que em algumas fases pode parecer que ambos se aproximam, mas a tendência geral é sempre a mesma - a voracidade -, pois a acumulação baseada no interesse próprio é o motor da economia. Isto faz-nos cair ciclicamente nos mesmos problemas. Ora, o combustível deste motor é a desigualdade (exploração).

Com isto chegamos ao ponto: democracia sem igualdade é um mito, pois os privilegiados têm sempre mais poder - visível ou invisível - para influenciar as decisões. É este o dilema liberal autodestrutivo em que mais uma vez nos encontramos, pois as crises económicas levantam o tapete e destapam esta tensão que sempre esteve presente. É isto que leva ao crescimento do populismo e à legitimação da extrema-direita.

Perante esta situação, podemos sempre ficar a defender a moderação e as instituições "democráticas", mas das duas uma: (1) ou achamos que é possível manter esta tensão sob controlo para sempre, (2) ou achamos que é com elas que vamos conseguir alguma transformação realmente libertadora. Mas isto são posições vãs, pois (1) a tensão eventualmente explode, como já explodiu no passado e como cada vez mais dá sinais de aviso, e (2) quem tem mais poder vai sempre ser melhor representado e defendido, sendo que as próprias instituições geram interesses contrários a essa libertação.

Assim, temos duas opções: acabar com o que resta da democracia liberal e ceder ao autoritarismo ditatorial e discriminatório, ou pensar e construir uma sociedade que seja materialmente igualitária, para que uma democracia real nela possa existir e sobreviver. Resta-nos escolher.

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