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Cobertura Palestra do Humor

Autoria: Pedro Silva, membro da Redação do Departamento SOCIALiS

Realizou-se no dia 23 de abril a palestra do humor, evento organizado pelo NESISCTE e que contou com a presença dos oradores Nuno Amaral Jerónimo, licenciado em Sociologia e autor da tese de doutoramento “Humor na sociedade contemporânea” e Pedro Santo, licenciado em Sociologia e co-autor e co-criador do universo Aleixo. O evento decorreu em formato online, onde foram debatidas temáticas inerentes ao humor, dando-se lugar no final a um breve espaço de perguntas e debate.

Primeiramente, a palestra começou com um tema que é muitas vezes sensível e polémico: os estereótipos na produção de humor.

Para Nuno Amaral Jerónimo, o humor e a comédia são uma arte performativa e que necessita de estereótipos e tipificações para ser compreendido, visto que imensas vezes apenas funciona se tiver referências comuns, de acordo com o contexto, a personagem e o universo. Assim acabam por se tornar fundamentais para construir uma imagem que seja reconhecida pelo público, dando o exemplo de que existe humor que resulta para os portugueses, mas não resulta para os brasileiros, porque apesar de a língua ser a mesma, existem diferenças na forma de falar e na perceção de determinas as questões.

Pedro Santo recorre ao universo Aleixo e refere que o mesmo utiliza bastante personagens com características portuguesas específicas para tentar desconstruir uma ideia. O orador afirma que os estereótipos podem afetar a vida nas pessoas, mas que existe muito tipo de humor que já não se baseia nisso. Por sua vez, descreve ainda que ao longo dos anos a sensibilidade das pessoas vai mudando, e o que não afeta as mesmas atualmente no futuro poderá ser diferente.

Nuno Amaral Jerónimo menciona que o público tem influência no humorista, no sentido em que se o mesmo escolhe qual é o seu limite e, por outro lado, as pessoas quando vão assistir a um espetáculo de comédia sabem o que vão ver, caso não seja do interesse delas, têm sempre hipótese de sair. Já no caso de Pedro Santo, o mesmo refere que o tipo de humor do Aleixo não se baseia tanto em temas polémicos e refere que o humorista pode controlar as piadas que faz, sendo que eventualmente algumas poderão deixar de fazer sentido.

No que diz respeito às linhas vermelhas do humor, Nuno Amaral Jerónimo afirma que tem uma visão maximalista da liberdade de expressão e pensa que os humoristas podem fazer humor sobre tudo, mas que também devem ter noção que podem ser criticados, tal como todos os outros atores da sociedade. Pedro Santos vai um pouco de encontro ao que refere Nuno e diz que sempre existiram pessoas a ofenderem-se com piadas, é inevitável e que é obviamente a favor de uma liberdade de expressão total para os dois lados, ou seja, tanto para quem faz a piada, como também para quem se sente ofendido com a mesma e tenha direito de a criticar.

Relativamente ao tema da representatividade humorística, Nuno Amaral Jerónimo concorda que esta é uma área em que o sexo masculino predomina, no entanto refere que não consegue ter a certeza absoluta se isso é um reflexo da sociedade em que vivemos e que se deve tentar compreender a razão pela qual as mulheres não se interessam tanto pelo humor. No entanto, diz que em termos de guionistas, na ficção e em drama, essa desproporção não existe e o panorama é bastante diferente.

Por outro lado, Pedro Santo defende que cresceu numa altura em que supostamente as “meninas não podiam fazer piadas e deviam ser recatadas”. Assim, diz que não sabe se o mundo do humor será abertamente machista, mas que podem existir certas dinâmicas que tornam este mundo mais povoado por homens. É um problema antigo que, de uma forma orgânica, ainda demorará algum tempo até que se torne mais justo.

Ambos os oradores afirmam que a formação em Sociologia acaba por ter alguma influência na forma como se pode fazer humor, visto que se tem automaticamente um olhar diferente sobre as dinâmicas sociais e a sociedade, tendo uma facilidade muitas vezes maior em desconstruir contextos e discursos.

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